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A memória desempenha um papel fundamental na poética de Isabê, mas não como tema de suas imagens. Trata-se, antes, de uma função, potencializada por algumas decisões da artista, tais como o uso de uma paleta de cores reduzida, composta predominantemente de tons terrosos e verdes amarronzados que remetem às paisagens do Mato Grosso do Sul, sua terra natal; e de suportes que se assemelham a fragmentos de papel e de tela que, em sua leveza, irregularidade e aparente precariedade encarnam a fragilidade e incompletude da memória. 

 

Essas pinturas e desenhos se precipitam em meio a uma solução feita de espaço, tempo, corpo e matéria. Cada imagem parece resultar de um encontro único e irrepetível da artista com a matéria. Em alguns destes encontros comparecem outros personagens, figuras humanas ou animais que reconhecemos ou cuja presença intuímos, e que parecem ter sido descobertas, mais do que criadas pela artista; em outros, predomina o corpo-a-corpo da artista com a matéria plástica.

 

O importante é que, independentemente do teor do encontro, a imagem que ele engendra é sempre, e antes de qualquer coisa, uma precipitação de espaço, tempo, corpo e matéria e, portanto, uma precipitação de vida. Margeando a figuração, as imagens de Isabê nos convidam a experimentar, sensorial e a afetivamente, as inscrições de uma gestualidade livre e informal, que desloca para uma zona cinzenta os limites entre a intenção e o acidente.

*Icaro Ferraz Vidal Júnior é graduado em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Crossways in European Humanities pelas Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Santiago de Compostela e University of Sheffield, doutor em História, História da Arte e Arqueologia pelas Université de Perpignan Via Domitia e Università degli studi di Bergamo e em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná e atualmente é bolsista de pós-doutorado PNPD-Capes no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É pesquisador do Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia (CISC/PUC-SP), do JUVENÁLIA - Culturas juvenis: comunicação, imagem, política e consumo (ESPM-SP) e do MediaLab.UFRJ. Tem experiência nas áreas de comunicação e de fundamentos e críticas das artes, atuando principalmente nos seguintes temas: arte contemporânea, imagem, reconfigurações do corpo, subjetividade contemporânea e atenção. Fez a curadoria das exposições Natureza Sintética (Galeria do Instituto de Artes da UNICAMP, 2018), Superfícies sensíveis || pele | muro | imagem (Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2018, co-curadoria com Laila Melchior), Gramáticas Infames do Medo (Blau Projects, 2017) e animal-estar (Galeria de Arte da UFF, 2017). Tem publicações em periódicos acadêmicos, revistas especializadas, catálogos de exposição e livros na América Latina e na Europa.

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