Isabê
Dessubjetivação: guerra a certos adjetivos. O corpo sem órgãos de Isabê oferece, como figura una, os vislumbres que cada olho ousa ver, espalhados pela galeria: um corpo explo- diu por aqui. No vão entre campo e arranha-céu, um rio de qualitativos não nos convida para o que jura ser real. Epopéias em ruínas de aço e cimento. Dissociados, por muito tempo desligamos o corpo, possuídos pela palavra que nos definiu desde o tempo do verbo. Entram, agora, em greve as máquinas que nos arrastam uma vida inteira na neurose de ser uma, ser duas, ser quantas precisar ser para ser escutada como a que encara de volta pelo abismo do espelho. Se encaro o primeiro mundo, o primeiro mundo encara de volta? Ou exalo um cheiro demasiadamente rural? Tudo que é de concreto parece ver como ingênuo o que é mátrio a ele. Um corpo explodiu por aqui, e suas formas jorraram os próprios caminhos pela sala, cada membro em uma parede, cada pedaço um tom de voz diferente, ruminados pela mesma boca. “Um me dá tesão, mas o outro é mais objeto”, diz a artista no breu da noite, cada tela um espelho. Será que vê que vive uma encruzilhada essencial da geografia? Água precisa de terra pra ser viva. Entre teorias de avós e rastros, Isabê canta de volta à voz que nunca percebeu que pode parar de se performar: quebrei o corpo que vocês me juraram ter. Um corpo com o nome prévio a sua própria morte se espalha pelos espelhos, e convido todos a escutarem as curvas de um rio que seca, apenas para dar vida e encher novamente.